domingo, 21 de outubro de 2018

ESQUINA DO CAUSO ANTOLOGIA - CRONICAS BIOGRAFICAS * Antonio Cabral Filho - R

Esquina do Causo Antologia - Crônicas Biográficas
Publicação disponível
Sua publicação já está disponível para seus leitores.
Antologia Esquina do Causo - Crônicas Biográficas * Antonio Cabral Filho - RJ
Título da publicação
Antologia Esquina do Causo - Crônicas Biográficas * Antonio Cabral Filho - RJ
Data da publicação
21 de Outubro de 2018 18:53
Visibilidade
P úblico
E agora?
Deixe sua publicação interativa
Insira sua publicação em seu site
Personalize nosso visualizador para ficar com seu estilo
Atualize para um plano PREMIUM!
Veja nossas ofertas
Precisa de ajuda? Visite nossa Central de Ajuda, ou entre em contato conosco respondendo a este e-mail e retornaremos assim que possível.
© 2008-2018 Calaméo. Todos os direitos reservados.

Livre de vírus. www.avast.com.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Mãe Aninha Do Céu * Gilberto Cardoso dos Santos - PB

*MÃE ANINHA DO CÉU*

(Gilberto Cardoso dos Santos)





Não era minha mãe, mas aprendi a chamá-la de mãe Ana. Quando minha verdadeira mãe morreu, eu tinha menos de quatro anos. Nada entendi daquele momento. Enquanto a velavam na casinha onde – ainda não sabia eu – passaria a morar, eu brincava e ria embaixo da mesa. Alguém me repreendeu pelo comportamento irreverente, e muito chorei por isso. Dali saiu mamãe para o cemitério, e ali fiquei sob a tutela desta segunda mãe, eu, dois irmãos e uma irmã.

Minha mãe legítima também havia sido criada por ela. Ela própria nunca teve filhos. Acreditamos que fosse estéril. A ela se referiam como Dona Ana, ou Ana do finado Mané João, a quem não tive oportunidade de conhecer.

Cedo vieram as peripécias próprias de cada idade. No telhado suportado por caibros e  varas tortas, via-se um pedaço de mangueira, pouco mais de meio metro. Não estava ali para cumprir a real função para a qual havia sido feita – a de conduzir água – todavia tirava água dos meus olhos, e como tirava!

A cada ato infracional, a cada pecado, eu era instado a olhar para o alto. Mirava, para além das telhas, para o olhar severo de Deus; mas o que eu via mesmo era a mangueira que parecia hibernar á semelhança de cobras, à espera do momento de ser empunhada pela vigorosa mão de minha avó e picar-me aparentemente sem piedade. Raras vezes ela dali a retirava. Com severidade similar à dos profetas velho-testamentários, a apontava e fazia promessas nada agradáveis. Apenas isso, o mostrá-la, tinha enorme efeito sobre meus instintos rebeldes. 

Às vezes, porém – raríssimas vezes -, eu não era dono mim e cometia falhas imperdoáveis. Mesmo a casa sendo baixa, dona Ana precisava ficar na ponta dos pés, como bailarina, e estendia o braço para retirá-la. Eram instantes enlouquecedores. Se eu tentasse correr, vinha a ameaça de que a surra seria maior. Sem sair do lugar e seguro pelo braço, aguentava a primeira lamborada nas pernas. A dor era lancinante. Eu não resistia e começava a gritar pedindo misericórdia, por mais que ela ordenasse que calasse a boca. Desde a primeira vez que apanhei passei a fazer uso de um vocativo, que espontaneamente brotava do fundo de meu desespero: Mãe Aninha do céu.

Enquanto pulava igual pipoca no caco, gritava mais ou menos assim: “Ai! Ai! Dê mais não, mãe Aninha do céu!

A cada surra, os vizinhos ouviam a expressão inusitada e isto se transformou num bordão e apelido. Riam de mim enquanto repetiam “Ai, mãe Aninha do céu!” 

Mãe Aninha do céu era algo que eu dizia apenas quando era castigado. Fora isso, chamava-a apenas de mãe Ana.


Hoje, mais do que nunca, vejo quanto foi do céu aquela que tomou conta de mim e de meus irmãos quando mais precisávamos. Se hoje pudesse vê-la, não necessitaria estar com a mangueira à mão para me ouvir chamá-la assim.  

*

DADOS DO AUTOR

Gilberto Cardoso dos Santos é filho natural de Cuité, PB e tem cidadania potiguar. Reside em Santa Cruz, RN. É educador, formado em Letras e Mestre em Literatura e Ensino pela UFRN; é um dos fundadores da APOESC e membro da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel (ANLiC); produz crônicas, contos, cordéis, textos teatrais etc. 




-- 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Um Homem Também Chora * Fátima Esteves - PT

*Um Homem Também Chora*
Fátima Esteves - PT
*
Um homem também chora

Quando mergulho nas brumas da memória, vislumbro lá longe a imagem do meu bisavô, António Martins, mais conhecido como António dos Ovos, sentado na carroça em descanso, na cabana do avô Mário. Sempre de barrete preto na cabeça, a lembrar os pescadores da Nazaré. Neste caso, para proteger do frio a cabeça que o cabelo há muito abandonara.
O meu bisavô viveu num tempo em que a máxima - “Os homens não choram” – condicionava o comportamento da maioria dos homens. No entanto, António dos Ovos chorou, chorou muito no dia em que a bisavó Natividade partiu deste mundo.
Nesse dia e nos que se seguiram, recusou dormir no quarto que ambos partilharam durante décadas e onde nasceram os seus dez filhos, entre os quais o meu avô Mário.
Durante semanas, não saiu da cozinha, onde sentado à mesa com a cabeça apoiada entre as mãos, viveu a dor mais cruel, que lhe escorria pelo rosto e se fazia ouvir, de vez em quando, nos lamentos e suspiros profundos de um coração esmagado pela dor da separação.


Num tempo em que não era suposto um homem chorar, o meu bisavô chorou por amor!

*
Dados da Autora

Maria de Fátima Esteves Martins nasceu a 13 de janeiro de 1969, no concelho de Mação, no distrito de Santarém – Portugal.
No início de 2014, começou a participar em concursos literários, têm cerca de duas dezenas de textos publicados em ebooks e em antologias, em Portugal, Espanha e no Brasil. 
***

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Herói de Verdade * Waldir Capucci - SP

* Herói de Verdade *

Waldir Capucci - SP
*

HERÓI DE VERDADE
                Eu era ainda criança e cursava os primeiros anos de aprendizado quando o conheci. E nossa convivência durou cinco anos naquele prédio, período do início da minha vida escolar. Recordo quando se apresentava na classe e todos ficávamos em pé, e da mesma forma nos portávamos quando se retirava. Ele tinha um diferencial que o tornava mais querido que os demais adultos da escola.
                Sua função? A mais simplória na hierarquia, um mero servente escolar cuja tarefa primordial consistia em varrer o pátio e as salas, mas fazia muito mais. Apartava nossas brigas no recreio e nas ruas, consertava portas e janelas, eliminava goteiras, cortava a grama, cuidava das árvores e fazia todos os reparos elétricos, hidráulicos e mecânicos. Um autêntico super-herói da minha infância, capaz de realizar tarefas complexas superando todos os obstáculos sempre com um sorriso característico.
Cresci e mudei para outra unidade de ensino, fui enfrentar novas etapas do aprendizado e acabamos perdendo contato. Ficou para mim a lembrança do servente amigo e, nas poucas vezes que o encontrei depois, recebi além do abraço o mesmo sorriso marcante como saudação.
                Quis o destino que com o passar dos anos eu me tornasse amigo de seus filhos, elo que permanece ainda hoje. E a amizade me revelou um lado desconhecido daquele senhor. O humilde servente era um militar reformado com participação nos campos de luta da Segunda Guerra Mundial e sobrevivente da batalha de Fornovo di Taro, na Itália. Sim, não era somente herói dos meus tempos de escola primária, era mais do que isso, um dos heróis da pátria, expedicionário da FEB, que por sua bravura recebeu  como prêmio pós-guerra  o nada prestigioso cargo de servente escolar, que exercia com tamanha dignidade.
                Meus olhos passaram a vê-lo sob outra ótica, o respeito cresceu, assim como eu também cresci e as obrigações de adulto provocaram nossa distância por longo período. Casei, tive filhos e netos, trabalhei e morei em outros locais, e nas poucas vezes que retornava para minha cidade os encontros familiares e com amigos ocupavam minha agenda. Fiquei anos sem encontra-lo, até que recebi a notícia de sua morte, aos 98 anos de idade, após longa enfermidade. O último combatente da campanha na Itália que permanecia vivo em minha cidade finalmente fora derrotado. Porém, ao mesmo tempo, viver quase cem anos foi sua derradeira vitória.
                Decorridos vários meses da sua partida pus-me a relembrar algumas passagens do nosso relacionamento. E senti orgulho de ter conhecido um herói real, de carne e osso. O velho servente do meu passado, sem superpoderes fantasiosos, capa, espada ou máscara, tinha como armas uma simples vassoura, um sorriso nos lábios e um coração enorme, e muito mais força e poder que os super-heróis atuais, com seus nomes americanos e japoneses que nem consigo decorar.


                São gostosas e saudosas lembranças que me deixam convicto que já não se fazem ou existem heróis como antigamente.
*
Dados do Autor:
Natural de Jacareí/SP, o autor, Waldir Capucci, tem na sua cidade natal e região do Vale do Paraíba as principais fontes de inspiração para seus textos, geralmente com pitadas de humor e doses de saudade. Participa de concursos literários desde 2009, e foi agraciado algumas vezes com seus contos, crônicas e poesias. 
***

domingo, 12 de novembro de 2017

A Árvore e Seus Frutos - Crônica Biográfica * Antonio Francisco Pereira - MG

A ÁRVORE E SEUS FRUTOS

( O Autor recebendo premiação do SESC - DF)


     Antônio Pereira e Conceição de Souza. Seus ossos repousam no cemitério de Queluzito, Minas Gerais. Juntinhos. E foi nessa condição – juntinhos – que eles trouxeram ao mundo dez filhos. Eu, no meio.  Apesar de todas as dificuldades, nenhum fruto renegou a árvore. Mais conhecido como “seu Tuniquinho”, meu pai deixou vários exemplos que construíram a sua imagem de homem reto. Antes de narrar um deles (que vale por todos), vou contar outro episódio bem mais recente, noticiado pela imprensa, que mostra a inversão de valores dos tempos atuais.
     É sobre uma bela jovem, com um lindo nome, que rima com poesia. Ela sonha ser médica num país que importa médicos. Aparentemente a família não tem problemas financeiros. Portanto, se se acrescentar a esse sonho perseverança, método e aplicação nos estudos, a receita (que nem precisaria da beleza da moça) seria favas contadas. Questão apenas de tempo.
     Mas a jovem, desmentindo o próprio nome, que significa sabedoria, quis avançar pela contramão na hora de fazer as provas do ENEM. Com o dinheirinho do papai pagou a uma quadrilha quase duzentos mil reais para receber, mastigadinhas, as respostas das questões por meio de um ponto eletrônico. Tudo muito simples e ao mesmo tempo sofisticado. Bastava tossir uma ou duas vezes (respectivamente SIM e NÃO) e a questão, que milhares de outros candidatos se esfalfaram para aprender, estava resolvida. Depois, outra e mais outra. Imagino até que ela tenha levado uma caixinha de pastilhas Valda para a sala, na eventualidade de o fiscal questionar aquele sonoro e persistente desconforto na garganta (Aceita uma, professor?)
     Descoberto o “embuste” (nome da operação policial), a moça se fechou num muro de lamentações e o paizão deu as caras, assumindo a paternidade (sem redundância) do sorrateiro plano. Justificativa? Queria dar o melhor para sua filha, pavimentar o seu caminho em direção ao futuro.
     Aqui, do meu cantinho, não quero julgar nem um nem a outra. Que a Justiça cuide do caso da melhor maneira possível, avaliando se o DNA da desonestidade passou do pai para a filha.
     Também não quero fazer comparação entre métodos de educação paterna, mas esse episódio me remete ao fato apregoado há pouco, de natureza semelhante, que marcou minha infância e ajudou a moldar meu futuro. E é nesse ponto que eu volto à figura do meu pai. 
     Tinha eu 12 anos quando comecei a trabalhar numa farmácia, de onde, certo dia, surrupiei um vidro de shampoo, que valeria hoje cerca de dez reais. Descoberto o “crime”, meu pai me carregou pela orelha até a farmácia, para devolver o produto e pedir desculpas ao seu dono, explicando-me, nas palavras de homem do campo, a diferença entre o certo e o errado e que, em termos de retidão, tanto um pequeno córrego como um rio profundo podem refletir a luz do sol.
     Até hoje aquelas palavras reboam em meu ouvido. E até hoje tenho a impressão de que uma orelha é maior do que a outra por conta daquele arrastão. Quem quiser tirar a dúvida pode chegar mais perto e medir as duas. Eu não me importo. Como importar, se foi exatamente aquele puxão de orelha à moda antiga e outras reprimendas do mesmo calibre - sem resvalar para o campo da violência - que fizeram com que nunca passasse pela minha cabeça comprar a vaga dos meus filhos na faculdade ou em qualquer concurso público?
     Vagas que eles conquistaram por mérito próprio, sem nenhuma cola, nenhuma tosse, nenhum ponto eletrônico. E de acordo com o ensinamento de que há um tempo de plantar e um tempo de colher.
     E só para finalizar: meu pai e minha mãe educaram, nesses moldes, uma penca de filhos sem nunca terem lido, em William Shakespeare, que “nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade.”
     Pais assim não morrem nunca.

Antonio Francisco Pereira-MG
*

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Madalena Cordeiro Autobiografia * Madalena Cordeiro - ES

AUTOBIOGRAFIA:



Sou Madalena Alves Cordeiro da Rocha, nasci aos 17 de setembro de 1956. Idade: 60 anos. Local do nascimento: Afonso Cláudio Estado do Espírito Santo. País: Brasil. Profissão: Costureira-Aposentada. Sou a segunda filha, dos sete filhos de meu pai e minha mãe. Meu pai: Moisés Alves Cordeiro Analfabeto, agricultor. Repentista. 

Os versos vinham na hora e cantávamos juntos enquanto trabalhávamos nos becos de café, ou, em qualquer outra atividade na lavoura. Escrever hoje, é a realização de um sonho desde a infância. Mãe: Maria da Silva Cordeiro ( in memória 1930-1986. Minha mãe cursou até a 3º série primária e ensinou meu pai assinar o seu nome. Meu pai ainda vive, em 07 de junho de 2017 ele completou 89 anos. 

Uma família simples e humilde, agricultores. Meus pais mesmo sem estudos, nos ensinou tudo certo. Ética, valorizar a família respeitar os outros e ter fé em Deus. Minha mãe, um dia saiu e foi em uma Escola particular Adventista do Sétimo Dia, sem ter nem um centavo. Chegando lá, conversou com o Professor Lourival Lourenço Storh. E disse: Minhas filhas "Eu e minha irmã, Floriana A. Cordeiro", estão na época de estudar a 1ª série e eu não tenho com quê pagar. Por favor! Deixa elas estudarem aqui. Se tiver algum serviço na sua casa eu posso estar ajudando a sua esposa. Na hora do recreio o Sr pode dar serviços as minhas filhas também. Então aquele professor piedoso disse: Manda as tuas filhas para à Escola e não vou cobrar nada. Fizemos a 1ª a 2ª e a 3ª série primária ali, nesta escola particular, sem pagar nem um centavo. Escola Adventista Do Sétimo Dia. Em 1968 cursei a 4ª série primária, aos 12 anos. "Escola Singular Fazenda Delbone". Uma professora D. Elvira Luiza Deorce, contratada pelo fazendeiro o Sr Samuel Delbone, para as crianças dos colonos. Algumas crianças iria começar e eu terminar, concluindo a 4ª série. Nessa época, fomos fazer uma viagem escolar e lá teve várias brincadeiras. Jogo de futebol, corrida etc. Também teve competição. Quem corresse de uma trave à outra enfiando uma linha na agulha e correr com um ovo na colher, sem que o ovo caísse ganharia dois cortes de tecidos. Eu corri e ganhei! Nesse mesmo ano 1968, fiz a minha 1ª poesia homenageando as mães, principalmente a minha mãe. Título: "Duas Mães" está no meu livro O SOL E A LUA. 

Comecei a trabalhar ainda criança, ajudando meus pais em tudo. Buscava lenha para ascender forno e fogão e assim fazer comidas. A lenha também servia para fazer sabão. Buscava cinzas na olaria, colocava em uma lata furada com pregos e socava até ficar bem firme; então ia colocando água até pingar um líquido preto chamado ( dicuda). Minha mãe colocava aquele líquido no fogo, mexendo com uma pá até secar e virar soda cáustica, misturava outros ingredientes, como por exemplo, pinhão socado, tripas de porcos etc. Então ficava pronto o sabão. Eu buscava água na fonte ou cacimba, bicas chafariz assim eram chamados, para todos os a fazeres. Eu moía cana no engenho, fazia garapa ( caldo de cana) para fazer café. Socava o café no pilão e depois que estava só os grãos verdes, então minha mãe torrava-os, depois de torrados voltava para o pilão novamente e virava o pó de café, aí, que iria tomar o saboroso café, este já estava até amargo de tanto trabalho. Ajudava colher milho, arroz, feijão etc. 

Eu brincava também. Quando íamos brincar de casinha, meu irmão Jorge (in memória) 1954-1990. Ele, dizia assim: Vou brincar também. Eu ficava tão feliz, porque a gente brigava muito, então quando dizia que ia brincar conosco, eu ficava muito feliz. Mas era só pegadinha. Depois do cozido pronto ele dizia assim: Deixa eu experimentar primeiro, quero ver se ficou bom nosso cozinhado. Fazia o prato dele e comia dizendo: Está uma delícia! Depois ele pegava um punhado de terra com folhas secas e jogava dentro da nossa sopa e saía correndo, rindo. E dizia: - Pensaram que eu estava brincando com vocês? Só ele comia.

 Às vezes até a natureza era contra mim. Eu cortava taboa, naquela época fazia muito frio e as mulheres dos fazendeiros faziam cobertores com penas de aves e paina, que era tirada da taboa. Então depois da paina seca, só colocar nos sacos e levar para vender; de repente vinha um vento forte e levava toda minha paina para os ares. Gostava de montar em cavalos, levava milho para fazer fubá. Atravessava a divisa do Espírito Santo com Minas Gerais. Em um certo dia estava descendo a Serra do Machado Minas Gerais, eu tinha uns 14 anos, no meio da Serra encontrei um homem tocando uma tropa de burros todos com cargas. O homem estava montado em um cavalo bonito e eu numa égua ( risos). O cavalo endoidou, quando viu a égua! A tropa espalhou, foi a maior algazarra que já vi nesta minha vida. O homem ficou com tanta raiva que deu-me duas chibatadas nas costas, com um chicote feito de couro de boi; quase morri de tanta dor! E ele disse: - Agora vai e conta para seu pai. Eu tenho uma conta antiga a acertar com ele, será desta vez o acerto de contas. Eu fiquei quietinha, não contei nada para meu pai. Minha mãe perguntou:- Que machucados são esses nas suas costas?-Eu, caí do cavalo (égua). E livrei meu pai daquele acerto de contas que eu nem sabia de quê se tratava. 

Minha mãe fazia fumo de rolo em casa, para vender, eu estava sempre junto fazendo fumo e levando fumo também; (risos) para vender. Minha mãe pegava o algodão, nós tirávamos os caroços batia-o com um arco que chamávamos de bodok, o algodão fiava igual uma neve, depois fiava na roca (fuso); eu também tinha meu fuso. Fazia uma bola bem grande de linha e depois ia fazer as peças de roupas. Fiz um casaco de crochê para meu irmão, eu tinha sete anos. 

Cresci. Em 1976, me casei para sair de casa, meu pai bebia muita cachaça (risos) e me batia atoa, por gostar de bater. Mas, o infeliz que se casou comigo, era um traidor, gastava o pouco de energia masculina na rua e não sobrava nada para mim (risos). Um dia o fraguei com uma mulher, na minha cama e vestida com a minha camisola, que comprei queria usa-la no meu barraco novo, tinha saído do aluguel em 1983. Ali tudo se acabou, o sonho de morar no barraco novo, acabou o casamento, uma grande reviravolta na minha vida, duas filhas pequenas Patrícia e Fabiana. Fui lutar para criá-las. Consegui graças a Deus! Casei-me novamente e ganhei mais filho e filhas. Sou mãe de cinco filhos, vó de oito netos e um bisneto. Filhos(as) Patrícia Cordeiro Justo Fabiana Cordeiro Bertolani Samuel Cordeiro Quéren Cristina Cordeiro e Cristiana Cordeiro Netos: Laryssa Cordeiro Justo Rafael Cordeiro Justo Gabriel Cordeiro Maria Vitória Cordeiro Sarah Cordeiro Miguel Cordeiro Davi Cordeiro Isaías Cordeiro Bisneto: Anthony Cordeiro Justo. Estes são; a minha riqueza. "Somei, multipliquei e dividi também na matemática da vida". 

Em 2013 editei o livro O SOL E A LUA, e tem alguns erros de portugês pelo fato de eu ter só a 4ª série primária de 1968. Uma amiga me falou, você precisa voltar a estudar, agora você já tem até livro... Disse: Eu venho te buscar hoje e você vai comigo à escola, leva uma foto e faz a sua matrícula. Eu disse: - Nunca consegui, por falta de prova que fiz a 4ª série! Ela - Agora você vai conseguir. Quando foi às 18:h, minha amiga veio me buscar, eu fui. Chegando lá, me fizeram a mesma pergunta... Cadê o seu Histórico Escolar? Novamente tento explicar tudo. Não tenho histórico, porque estudei no meio do pasto junto com as vacas, os burros que se coçavam no velho barraco de madeira quase derrubando-o. A professora Srª Elvira Luiza Deorce, foi paga pelo fazendeiro Sr Pedro Delbone, para dar aulas e os filhos dos colonos não ficassem analfabetos. Então, a moça da secretaria chamou a Diretora Luziane Bissoli e contou. Luziane disse: Faz a matrícula dela, (choro) de alegria. Em 2013 houve uma revolução na Escola Renascer em Padre Gabriel Cariacica-ES. Passei pela sala de alfabetização com sucesso, porque realmente eu havia feito a 4ª série. Ficaram maravilhados com os meus livros. Dois lançamentos dos livros, foram realizados na Escola E.M.E.F. RENASCER. "O SOL E A LUA", em 03 de outubro de 2013. É um livro de poesia, inspirado em um amor quase impossível. Lançamento do livro AMIGA DA ONÇA, realizado em 30 de novembro de 2014. É um livro de Contos e Prosas, em homenagem a natureza geral. A Divina, a humana e a animal. Recebi um apoio muito grande de toda equipe da Escola, Diretoria, professores, colegas e principalmente a professora Savia Maria Pessale. Terminei o Ensino Fundamental na Escola Renascer e fui para o Ensino Médio. E.E.E.F.M Dr José Moysés, em Bela Vista Cariacica-ES. Minha Formatura em 07 de julho de 2017. 

Em 2015, fiz um comercial de TV. Comemorando aos 62 anos da Viação Planeta. O Comercial está no site www.poesiafaclube.com 

Literatura:



 A Arte De Compor e Expor Escritos Artísticos - Prosas e Versos - Lenilson Fonseca. Minha participação com 6 poemas Títulos: QUARTO VERDE E CORTINA DE SEDA. MINHA VIDA. MEU AMOR. UMA FLOR CAIU. VIVO POR TI. O RELÓGIO NÃO PÁRA E O TEMPO PASSA. NADA DE WHATSAPP. Estão em * literaturaprosaseversos.com.br ANTOLOGIAS: MINHAS PARTICIPAÇÕES 1ª Antologia do poesia fã Clube 2013 Vários Autores. 2ª Antologia do Poesia Fã Clube 2014 Vários Autores. ANTOLOGIA 100 TROVAS SOBRE FUTEBOL. ANTONIO CABRAL FILHO. ANTOLOGIA 100 TROVAS SOBRE CACHAÇA. ANTONIO CABRAL FILHO. ANTOLOGIA 100 TROVAS SOBRE BANHEIRO. ANTONIO CABRAL FILHO. "TORRENTE DE PAIXÕES" ANTOLOGIA DE POESIA LUSÓFONA. Minha participação: EU AMO O AMOR! ANDORINHA. O AMOR É MÁGICO. Organização Isidro Sousa. SUI GENERIS ANTOLOGIA "Os Vigaristas". Minha participação: "ADEUS MEU DINHEIRO"! Organização Isidro Sousa. SUI GENERIS. "GRAÇAS A DEUS" Antologia de Natal (Uma Ação de Graças) Minha participação: "CARTA DE MEU IRMÃO ROCHA". Organização Isidro Sousa SUI GENERIS. ANTOLOGIA "SONS DO VENTO". Minha participação: Poemas: ANDORINHA. EU PRECISO IR AGORA. PROFESSORA MÃE (SAVIA MARIA). Edições Hórus. ANTOLOGIA "MAIS MULHER". Minha participação: Poemas: MULHER SEMENTE DE AMOR. MÃE MULHER VIRTUOSA. VIDA DE MULHER. A MULHER VIU JESUS PRIMEIRO. Edições Hórus ANTOLOGIA PETS COMPANHIA (Contos sobre nosso animal de estimação) Meu Conto: "A VIDA DE CYSSA" Organização Antonio Guedes Alcoforado. Editora Illuminare. Antologias que estão em projetos e já fui selecionada. 200 trovas sobre Rapariga- ANTONIO CABRAL FILHO. "Um Hino a vida". Minha participação poema: "UM BRINDE A VIDA DOS MEUS FILHOS"! Isidro Sousa Editora SUI GENERIS. "Histórias para dormir e sonhar". Minha participação: "Helena e o Boi Bravo". Ediçoes Hórus. PESSOA(S) Minha participação poemas: FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMO. FERNANDO PESSOA. AMOR POR PESSOA. HOMENAGEM. Edições Hórus e Luzíadas. INTERCÂMBIO CULTURAL "PALAVRAS ESCRITAS DO BRASIL". Minha participação "ABERTURA DA COPA MUNDIAL 2014". Organização Jô de Mendonça Alcoforado. Sou Colunista na "NOSSA REVISTA CULTULITERARTE" Revista on-line Edições Hórus. DUETOS: Com 4 poemas no livro "FRAGMENTOS DUETOS" do poeta José João Murty. Fiz duetos com o Billy Brasil cantor e compositor. Gravaram músicas juntos, Billy Brasil e os saudosos... Antonio Marcos e Reginaldo Rossi. Os duetos com Billy Brasil se encontram no site www.poesiafaclube.com Como Representante Oficial no FESTIVAL 6 CONTINENTES, em 17 de outubro de 2015 e Lançamento do livro "A OVELHA PERDIDA FOI ENCONTRADA", (contos reais da minha vida). Realizado na SEME/ Auditório Antário Filho Secretaria da Educação. Situada na Rua da Lage nº 13 Bairro Itaquari Cariacica-ES. E, em 02 de outubro de 2016, apresentei a alta costura no FESTIVAL 6 CONTINENTES 2016. Eu gosto da cultura em geral. Músicas, gosto mais das antigas, sertanejas e de Roberto Carlos, todas as músicas. Porém, canto mais os Hinos de Louvores a Deus. Canto no dia a dia. É como dizem: "Quem canta seus males espanta". Animais: Gosto de todos. Em especial o gato. Amo a natureza, desde o mais simples inseto. É maravilhoso e complicado, todos tem que lutar pela sobrevivência. O sapo corre da cobra, a cobra corre do gavião etc. Mas, em meio a natureza o mais violento é o ser humano, um devora o outro. Lamentável! UMA VIAGEM ESPECIAL BRASÍLIA (DF). AVIÃO PELA PRIMEIRA VEZ. No dia 10 de dezembro de 2008 almoço no Senado estavam à mesa, o Sr Vicente Bonnard Presidente Emérito da Câmara de Comércio Brasil/Estados Unidos. O Sr Henrique Ministro e o Sr Coronel Heitor de Sousa, na época era assessor de José Sarney. O Sr Benedito o (Bené) Ministro e Margarett sua esposa, Sônia Barroso e eu. Este casal maravilhoso Margarett e o Ministro Benedito, que nos mostrava tudo e explicava pra nós; inclusive sobre uma "CADEIRA" vigiada que estava lá. Um silêncio era domingo, eu não sabia sentei naquela cadeira para tirar uma foto, não deu tempo nem de acomodar-me direito na cadeira, apareceram dois seguranças, mas a foto já tinha sido tirada. Eles disseram: Não pode sentar-se aí! - Desculpe, eu não sabia! Margarett disse: Desculpe-me não vi os guardas! Esta cadeira é realmente vigiada, porque nela sentaram: Dom Pedro 1º e Dom Pedro 2º, nela os "Presidentes recebem a Faixa Presidenciaria, quando são eleitos". Então sentei na cadeira do Pesidente. Em 11 de dezembro de 2008, jantamos com o Embaixador na época, o Sr Gorge Prata e sua esposa Miriam; o Sr Gilberto Amaral Jornalista de Brasília e sua esposa Mara, também Vicente Bonnard, Sônia Barroso e eu.


Em 17 de dezembro de 2008, almoço na casa do Jornalista Gilberto Amaral. Muita comida, já estávamos em clima de Natal a casa estava cheia, inclusive o Ministro Édison Lobão, na época era Ministro de Minas e Energias. O Jornalista Gilberto Amaral fez uma Matéria conosco e saímos no Jornal de Brasília (DF). Uma viagem inesquecível! Deus é Bom!
***

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Reencontro * Ângela Matos - MG

Reencontro



Sempre que estou aqui meu coração se renova.
Tudo calmo,acolhedor, o sol trás consigo um dia lindo.
Rendendo vida nova.Coração novo...pessoas aconchegantes.
A felicidade e a simplicidade de mãos dadas em sintonia.
Fico a me torturar...
Deixei minhas raízes e fui ser planta de vaso; que se carrega para outros lugares.
Plantinha que era singela; mas agora com tantos conhecimentos.
E ainda outras dores armazenadas e sofridas!
Suspiro em minha alma o silêncio e a vontade de estar no passado. Onde
eu era apenas semente, neste lugar tão prazeroso que abraça o coração da gente!
Lágrimas não deixarei rolar,pois o momento é sublime, vou desfrutar cada segundo
destas companhias maravilhosas e deste encanto que me faz sonhar...
Estou em Jampruca, minha querida cidade natalícia, meu berço...
Meu lar!
Ângela Matos - MG

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Crônica Biográfica * Ângela Matos - MG

Crônica Biográfica * Ângela Matos - MG


 Só pra não dizer que não contei de mim: nascida em Jampruca, ou melhor dizer, no distrito do Prata. Interior do interior . Para ser mais precisa, debaixo de uma grande e velha mangueira.
Era tempo de muitas chuvas, dezembro, e sem estrada não tinha como meu pai, o senhor Leandro, passar com seu caminhão Ford cheio de sacas com milho e feijão. 
Sim senhor!
Levava tudo para vender em seu armazém da Praça em Jampruca.
Nesses tempos as mulheres tinham seus filhos com ajuda das parteiras, e nesta viagem minha mãe tinha ido. No entanto as chuvas demoraram e chegou o dia do meu nascimento: aos 09/12/67.
Logo chegando em casa meu pai foi  a Governador Valadares para fazer o registro de nascimento; não me pergunte o porquê. 
Nascer no Prata,  morar em Jampruca e ser registrado em Gv...

Infância tranquila,  típica de interior. Assim como deve ser.
Com muita fogueira, cantiga de roda, missas aos domingos,
namoros também depois  da missa...
Lembro do tempo da escola, dos colegas de caminho e das brigas no recreio.
Foram muitas por motivo  de bullying... os meninos e as meninas cantavam e faziam músicas com versos:
"Zoi de gato
Quarenta e quatro
Vai na missa 
Sem sapato."
Meu irmão mais velho, o Lioclério, várias vezes foi na escola para me defender e lavar a honra da família com socos e chutes na molecada. Assim dizia ele...
A escola ficava num bairro denominado "Vulcão", numa planície cheia de braquiara, com um caminho estreito de chão batido. Escola de latão laranja encardido.
Isto não fazia diferença. Importante era poder ir para a escola. Ainda lembro com saudade da minha doce professora da quarta série, irmã do Seu Tatão, a Nininha.
Sempre carinhosa comigo; foi ali que descobri minha vocação. Queria ensinar!
Naqueles dias a diversão consistia em brincar na rua, ou roubar fruta nos quintais vizinhos e até  mesmo ver TV na casa alheia. Era muito raro televisão em casa.
Já adolescente eu gostava muito de dançar discoteca.E para isto ficávamos ensaiando no bar do armazém do meu pai.Tinha uma vitrola antiga lá.Quando não tinha serviço ou ele se distraía, colocávamos o CD vinil da Dana Summer pra rodar a tarde toda.
Eu e o mauro,meu irmão caçula, ganhávamos todos os concursos de dança no salão da Dejanira.
  Nunca me esqueci da famosa cuba-libre (água, rodelas de limão,vodca,gelo e coca-cola).Naqueles tempos era chique tomar esta bebida. Tudo era mais simples e prazeroso. Era o "must"frequentar aquele ambiente sempre que pai deixava.
Cresci trabalhando e estudando.Tinha que trabalhar no armazém e às 17:30 minutos deveria estar na praça Ana Magalhães,  pois o ônibus do senhor Belques já esperava para levar os estudantes à escola de Ensino Médio em Frei Inocêncio. Jampruca só tinha até ensino Fundamental. Confesso que custei entender a diferença do que era fundamental ou médio. 
Casei -me assim que terminei o Médio.Uma semana depois já estava na igreja
juntamente com mais seis casais, o padre Gino é quem abençoava os casamentos naquele tempo.Tenho até foto com ele.
Meu namorado, arranjei logo no começo do curso, era um colega que cursava o segundo ano na mesma escola em Frei Inocêncio.
Tempo passou muito rápido.Um casamento complicado que durou sete anos, quando por fatalidade de um acidente, fiquei viúva com dois filhos...

Casei- me novamente, dezoito meses depois e tive mais uma filha.
Retomei os estudos e cursei letras na UNIVALE, sonho antigo. Era faculdade, trabalho na escola e compromissos domésticos. Escrevi, editei, lancei livro.Perdi minha filha, também de forma trágica; mas permaneci com meus sonhos.
Me dediquei mais um tempo com educação pública;  e por fim a decepção me levou à exonerar o cargo de professora na rede pública. 
Defini dedicar mais tempo com a família, a cozinha que amo, com os bordados, com as pinturas, o crochê e com a literatura e meus escritos. Resolvi viver um pouco mais, plantar mais flores e cultivar amigos.
Continuo vivendo entre as montanhas que ficam entre Valadares e Teófilo Otoni, sempre que posso dou uma puladinha na minha saudosa e amada Jampruca.
Continuo escrevendo, vivendo e plantando flores...literalmente.



Angela Matos  MG

MiniBio

Ângela Matos é mineira de Jampruca, professora, com Licenciatura Português/Inglês, 12 anos de atuação na EJA e 16 no ensino médio, artesã e poeta. Tem dois livros publicados: Camuflagens do Amor e Devaneios. Foi casada por 7 anos e ficou viúva. Hoje, numa nova relação, é casada há 25 anos, tem 2 filhos casados e sem netos. É amante da natureza e de tudo que amplia o AMOR. WhatsApp (33)84163038. Confira https://www.facebook.com/angela.matos.39948


terça-feira, 13 de junho de 2017

Crônica de Uma Vida * José Estanislau Filho - MG

Crônica de uma vida



Outubro. 1951. Dia 20. Não há registro das horas.
  Consta na certidão, o nascimento de uma criança, pelas mãos de uma parteira, nos grotões da pequena cidade do interior de Minas, São João do Oriente. Entre quatro e seis anos, provavelmente, a família dessa criança mudou-se para outro roçado, no córrego Boleirinha, zona rural de Jampruca, localizada entre o Vale do Rio Doce e Mucuri. A mudança ocorrera, por conta de desavenças políticas. Em Jampruca crescera, entre o roçado e a rua. E o amor ao pé de ingá, onde sempre parava para saborear os frutos e descansar sob suas sombras; entre o trabalho no campo e o lazer com os filhos de companheiros camponeses ou no pequeno distrito, jogando sinuca e futebol; indo ao cinema. Os estudos primários eram, também, uma válvula de escape. De criança a adolescência, tudo passou muito rápido. Aos dezesseis, novamente por conta de desavença política, a família mudou-se para Engenheiro Caldas, mas lá permanecera por curto período: entre 1967 a 1970, quando, novamente mudam de cidade, desta vez, não por desavença política, pois o pai abandonara a contenda, mas por outros motivos, que não veem ao caso e, para não alongar a narrativa. Para onde ia, levava consigo o segredo do evento ocorrido às sombras do pé de ingá. Mudaram-se, então, para Itabirinha. Nesse período, matriculara-se no Ginásio Agrícola de Colatina-ES, em regime de internato. Tempos de ditadura militar; do tri campeonato mundial; do milagre econômico; do "ame-o ou deixei-o"; de "este é um país que vai pra frente". E consigo a lembrança do pé de ingá e do que ali ocorrera...
  Para que a crônica de uma vida não seja prolixa, o autor muda o rumo da prosa, e passa a falar de como a literatura entrou em sua vida. Tudo começou em Jampruca, lendo foto-novelas, quadrinhos e livros de bolso, que os irmãos e uma irmã, traziam das cidades grandes. Depois seguiram-se os clássicos nacionais e estrangeiros. José Alencar, Machado de Assis, Tolstoi, tudo que caía em suas mãos, até conhecer as primeiras bibliotecas e "comer" muitos livros. Das leituras a escrita, foi um pulo. Primeiro com diários, seguidos dos primeiros versos. A literatura descortina o mundo, abre horizontes. Assim, o jovem desbravou florestas; singrou mares; apaixonou-se por capitus e julietas; viu soldados e civis mortos nos front's; revoltou-se com as injustiças, que os livros de história e os romances narravam; buscou entender o sentido da vida com os livros de filosofia e na universidade da vida. Fez greve. Continuava sonhando escrever/revelar o que ocorrera sob as sombras do pé de ingá.
  Inevitavelmente a leitura despertaria a sua consciência política. Em busca de emprego, independência e sobrevivência, foi morar na capital. E do chão da fábrica ao sindicato, foi rápido. Quando a consciência de classe e política de que uma vida plena é um direito de todos se instala, não larga mais. Paralelamente a ação política, escrevia poesias, crônicas e contos. Sedimentava o escritor autodidata.
  Hoje, com vários livros publicados em edições marginais, assiste ao que pensou ser uma página virada na história: a nossa frágil democracia novamente golpeada, desta vez, não pelos militares, mas por uma quadrilha de parlamentares em conluio com a turbamulta. E como a consciência política e social instalou-se definitivamente, continua em ação, para mudar esta realidade.
  E prepara-se para escrever o que deseja ser o seu melhor texto: o evento ocorrido à sombra do pé de ingá.

Publicações:

1 - Nas Águas do Arrudas - poesias - 1984
2 - As Três Estaçoes - poesias - 1987
3 - O Comedor de Livros - poesias - 1991
4 - Crônicas do Cotidiano Popular - 2006
5 - Filhos da Terra - crônicas, contos com fechos poéticas - 2009
6 - Todos os Dias são Úteis - poesias - 2009
7 - Palavras de Amor - poesias - 2011
8 - Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros - 2012
9 - A Moça do Violoncelo (contos) e Estrelas - poesias (dois livros em um).



*

domingo, 11 de junho de 2017

Crônica Autobiográfica * Antonio Cabral Filho - RJ

Crônica Autobiográfica


Nasci em 13 de agosto de 1953, em Jampruca, ex distrito do município de Frei Inocêncio - MG. Em 1964, após o golpe militar, fui para a escola, aos onze anos de idade, "graças" ao generalíssimo Castelo Branco, que baixou decreto obrigando as famílias a mandarem os filhos estudar. 
@  
Em 1967 concluí a quarta série, com média 7. Nessa época eu fazia teatro, na escola e na igreja, e, com a ajuda da única pessoa que eu considero Professora neste mundo, a Dona Adir, como eu ainda a chamo, montamos a peça O FILHO PRÓDIGO, com a intensão de realçar a auto-destruição em que se encontrava a juventude naquele momento. EU, fiz o papel do irmão mais velho, que realmente sou.
Durante as férias escolares de junho de 1968, dei uma chegada ao Rio de Janeiro para fazer uns biscates e comprar roupa nova, mas ao chegar no Catumbi, meu primo Sadi levou-me para conhecer a cidade. Era 26 de junho, dia da PASSEATA DOS CEM MIL. Passeei na passeata, virei passeateiro e ainda passeio em passeatas. 
@
Em junho de 1969, meu Tio paterno Sebastião Cabral, mestre de obras no Rio de Janeiro, foi buscar peão para suas obras e eu me alistei. Falei com ele da necessidade de eu sair da roça, escapar das garras do meu pai e  deixar de ser mão-de-obra gratuita. Tinha quinze anos e era escravo do meu próprio pai. 
Ele compreendeu e arrancou-me da casa paterna, não sem antes anunciar-me as agruras da cidade. Ao chegar em seu barraco, na Favela da Mineira, meu romantismo com a cidade grande foi pelo valão abaixo. Vi cair aos meus pés um menino fuzilado pela polícia, que segundo foi dito, era traficante. Durante muito tempo eu tive pesadelos por causa disso. 
Morei na casa do meu querido tio até ir para o quartel. Matriculei-me na Escola Canadá, Rua São Carlos, no Bairro do Estácio e refiz o primário, transferi-me para a Escola Geny Gomes, no Rio Comprido e cursei a quinta e a sexta séries. 
@
Era um tempo turbulento, com muitos professores fazendo "inquéritos" com os alunos, até o dia em que descobrimos um professor de história agente do SNI e ele nunca mais pôs os pés na escola... 
@
Alistei-me no Exército e logo a seguir, entrei no Colégio Martin Luther King, fiz a sétima e a oitava séries. Com dez meses de recruta, "sentei praça" e virei soldado antigo; fui para o profissionalizante, no Curso Santa Rosa, Largo de São Francisco fazer contabilidade, em frente ao IFCS-UFRJ. Era 1974, fui promovido a cabo do exército, mas de olho no curso de sargento. Fiz o curso e passei, fiquei até início de 1976 aguardando a promoção que não veio e pedi baixa; passei no vestibular e fui cursar direito na UFF. Abandonei por desilusão com a filosofia do direito após o quarto período; fui para comunicação social, mas a psicologia da notícia acabou comigo. Caí na vida e estou pegando touro à mão. Escrevo, desde criança, por ter sido premiado várias vezes nos concursos de redação do Grupo Escolar Frei Inocêncio - MG, e me desenvolvi nos meandros literários de modo autodidata, pelas mãos de Graciliano Ramos, acrescido das oficinas e cursos nas áreas de conto e crônica. Mas não posso ignorar a contribuição do teatro, que faço esporadicamente de modo amador. Desenvolvi ótimas experiências escrevendo anúncios para jornais de bairro e programas de rádio, e isso levou-me  a compreender mais ainda o papel da linguagem publicitária na literatura, seja em prosa  ou em versos, graças a Paulo Leminski.

*