domingo, 11 de junho de 2017

Crônica Autobiográfica * Antonio Cabral Filho - RJ

Crônica Autobiográfica


Nasci em 13 de agosto de 1953, em Jampruca, ex distrito do município de Frei Inocêncio - MG. Em 1964, após o golpe militar, fui para a escola, aos onze anos de idade, "graças" ao generalíssimo Castelo Branco, que baixou decreto obrigando as famílias a mandarem os filhos estudar. 
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Em 1967 concluí a quarta série, com média 7. Nessa época eu fazia teatro, na escola e na igreja, e, com a ajuda da única pessoa que eu considero Professora neste mundo, a Dona Adir, como eu ainda a chamo, montamos a peça O FILHO PRÓDIGO, com a intensão de realçar a auto-destruição em que se encontrava a juventude naquele momento. EU, fiz o papel do irmão mais velho, que realmente sou.
Durante as férias escolares de junho de 1968, dei uma chegada ao Rio de Janeiro para fazer uns biscates e comprar roupa nova, mas ao chegar no Catumbi, meu primo Sadi levou-me para conhecer a cidade. Era 26 de junho, dia da PASSEATA DOS CEM MIL. Passeei na passeata, virei passeateiro e ainda passeio em passeatas. 
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Em junho de 1969, meu Tio paterno Sebastião Cabral, mestre de obras no Rio de Janeiro, foi buscar peão para suas obras e eu me alistei. Falei com ele da necessidade de eu sair da roça, escapar das garras do meu pai e  deixar de ser mão-de-obra gratuita. Tinha quinze anos e era escravo do meu próprio pai. 
Ele compreendeu e arrancou-me da casa paterna, não sem antes anunciar-me as agruras da cidade. Ao chegar em seu barraco, na Favela da Mineira, meu romantismo com a cidade grande foi pelo valão abaixo. Vi cair aos meus pés um menino fuzilado pela polícia, que segundo foi dito, era traficante. Durante muito tempo eu tive pesadelos por causa disso. 
Morei na casa do meu querido tio até ir para o quartel. Matriculei-me na Escola Canadá, Rua São Carlos, no Bairro do Estácio e refiz o primário, transferi-me para a Escola Geny Gomes, no Rio Comprido e cursei a quinta e a sexta séries. 
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Era um tempo turbulento, com muitos professores fazendo "inquéritos" com os alunos, até o dia em que descobrimos um professor de história agente do SNI e ele nunca mais pôs os pés na escola... 
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Alistei-me no Exército e logo a seguir, entrei no Colégio Martin Luther King, fiz a sétima e a oitava séries. Com dez meses de recruta, "sentei praça" e virei soldado antigo; fui para o profissionalizante, no Curso Santa Rosa, Largo de São Francisco fazer contabilidade, em frente ao IFCS-UFRJ. Era 1974, fui promovido a cabo do exército, mas de olho no curso de sargento. Fiz o curso e passei, fiquei até início de 1976 aguardando a promoção que não veio e pedi baixa; passei no vestibular e fui cursar direito na UFF. Abandonei por desilusão com a filosofia do direito após o quarto período; fui para comunicação social, mas a psicologia da notícia acabou comigo. Caí na vida e estou pegando touro à mão. Escrevo, desde criança, por ter sido premiado várias vezes nos concursos de redação do Grupo Escolar Frei Inocêncio - MG, e me desenvolvi nos meandros literários de modo autodidata, pelas mãos de Graciliano Ramos, acrescido das oficinas e cursos nas áreas de conto e crônica. Mas não posso ignorar a contribuição do teatro, que faço esporadicamente de modo amador. Desenvolvi ótimas experiências escrevendo anúncios para jornais de bairro e programas de rádio, e isso levou-me  a compreender mais ainda o papel da linguagem publicitária na literatura, seja em prosa  ou em versos, graças a Paulo Leminski.

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Um comentário:

  1. Os jampruquenses ausentes brilhando nas letras. Você é eu,autodidatas, na companhia, ótima, da acadêmica Ângela Matos. O mundo gira, A Lusitana roda... abraço fraterno e literário.

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